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terça-feira, 3 de junho de 2014

O PENÚLTIMO
PACOTE DE PIPOCA
 Mais vale uma pipoca que um gol de bico

Havia um craque em Pelotas, a minha pátria pequena que deixei lá no Sul, que se chamava Zé Alan. O que esse cara jogava de bola no antigo futebol de salão, hoje o insosso futsal da Fifa, era uma fábula.

Antecipava cada lance, coisa de cinco segundo antes de todo mundo. Pois, quando ele deixou do jogo de bola, eu o levei para ser comentarista esportivo da Rádio Universidade - a andorinha que fazia verão naqueles douradíssimos Anos 80/90.

É dele a frase síntese do que deve ser o futebol, em quaisquer dimensões, profissionais ou amadoras, de campo ou soçaite e até de salão: "Mais vale uma pipoca que um gol de bico".

Era dentro dessa filosofia que jogavam Ademir da Guia, Gerson, Didi, Joaquinzinho, Dorval, Mengálvio, Coutinho, Ênio Andrade, Pepe, Zito e similares que pipocavam todos para que Pelé metesse pra dentro; para que Pelé matasse a pau; para que Pelé fizesse mais de mil gols para todo o sempre, amém.

Como pra mim não vai ter Copa nem  mesmo na TV; como vai ter Copa pra você na tela do televisor do mesmo jeito que foram as últimas duzentas Copas do Mundo, fui ao microondas e saltitei uma pipoca dessas plásticas socadas em embalagens bonitas que escondem a gordura saturada com perfeição.

Peguei meu guaraná do Amazonas e me estarrei na poltrona da sala. Chove lá fora. Tarde ideal para ver um jogo-treino da seleção dos cartolas da CBF.

E é assim que estou agora. Querendo ver que bicho vai dar nesse confronto de brinquedo entre o escrete de Felipão e o time do Panamá, a coisa desclassificada mais parecida com o México que os brasileiros encontraram antes que comece a Copa dos Copos.

Ninguém vai acreditar, mas já se passaram cinco minutos de jogo e o treino ainda está zero a zero e a Família de Felipão quase quebrou até aqui duas canelas panamenhas. Ninguém deu até agora nenhum pontapé no Neymar que, a bem da verdade, ainda não viu a cor da bola.

Dez minutos e já deu pra ver: ninguém bate um lateral com a perfeição que Neymar bate. Que espetáculo, ele arremessa aonde quer. É como se o fizesse com os pés. Esse Neymar vai ser o Cara da Copa.

Aos 11 minutinhos, David Luiz inaugurou a série amarela. Tomou um cartão que só um zagueiro com aquela cabeleira é capaz de cometer. Debaixo dos caracóis dos seus cabelos há um campeão do mundo em potencial.

Chegamos aos 17 minutos - que lance! Sabe o que foi que aconteceu? Começou a chover em Brasília e a SKY saiu fora do ar. Entre na transmissão local da Globo. A que me custa os tubos, sumiu; aquela para a qual Não pago bulhufas, salvou minha pipoca.

Olhando assim e ouvindo Felipão, Dilma, Aldo Rebelo, dá para sentir que o selecionado da CBF jogando o que jogou nesses 20 primeiros minutos, o Panamá teria todas asa chances de ser campeão do mundo.

Aos 26 minutos, gol! - Taí, não disse que o Neymar bate lateral como se fosse com o pé? Ele acaba de fazer um golaço de bola parada em razoável velocidade. Meteu no ângulo, como se tivesse colocado com a mão. Acho até que nem foi gol, foi arremesso lateral.

Aos 30 minutos, Hulk deu uma conga no lateral lá pela extrema direita do ataque da seleção verde-amarela. A bola acabou saindo para escanteio. Enquanto a falta não era cobrada, o lateral aproveitou para perguntar ao atacante se ele também sabia alguma coisa de rumba e de reggae. Cobrado o córner, ele não deu em nada.

E lá se foram 35 minutos. Como joga bem esse tal de Julio Cesar, goleiro do Scolari. Não fez nenhuma defesa até agora. Mas se tivesse feito alguma, com certeza, ela teria sido a mais bonita do jogo-treino.

Quase quarenta minutos de bico e bico; nada de pipoca. Nem umazinha, para alegrar os olhos de quem gosta mesmo de futebol.  Tanto é que, neste exato momento, Daniel Alves acaba de fazer um gol de bico. O avesso do que Zé Alan preconizava. E o bico ficou valendo nesse instante mais que uma pipoca. Empinei uma dose de guaraná.

Está quase terminando o primeiro tempo do ensaio carnavalesco contra o Panamá. Não adianta, Não consigo ver futebol no Hulk. O volumoso traseiro do vigoroso atleta ofusca o que pode haver de bola naquele corpo; parece que está sempre preparado para levar um chute nos fundilhos. Isso até tem lá suas vantagens: ele não é como certos ministros do esporte que já nem se preocupam mais com isso.

Começa o segundo tempo. Só de ouvir falar nisso, o Agnelo Queiroz fica enlouquecido. Como ele é patriota. E recomeça então, minha discordância com Felipão. Eu continuo achando que mais vale uma pipoca que gol de bico. Troquei o guaraná por um café preto, coado na hora.

Uma coisa é certa: deu pra minha bola. Não me abalo em sair do escritório para a sala para ver o Brasil na TV. Bye bye Brasil até a Copa das Copas. Esta foi a penúltima pipoca. Não me pegam mais até que venha a Copa de Dubai

Um minuto de bola rolando. Neymar mete com a rebimbela das intertelas do calcanhar esquerdo para Hulk. O homem verde, abusado, meteu de trivela como se soubesse o que é isso. Gol do time dos cartolas da CBF. Gol de parafuseta, 3 a 0. O time do Panamá, não tem vocação nenhuma para o futebol. Tem um parafuso frouxo na cabeça de zaga.

Eba! Fred saiu. É como se não tivesse entrado. Não deixou saudade. Entrou Jô, um perna de pau de vira tripa. E eba, de novo! Saiu Oscar, uma espécie de troféu de filme de mocinho. Entrou William, um forte concorrente a fazer a cabeleira de Daniel Alves parecer-se com uma peruca.

Olhei para o banco de reservas e só então me dei conta da vantagem de Felipão em ter Mortosa sempre a seu lado. Ele nunca vai perceber quando Mortosa estiver fazendo careta de reprovação para uma troca mal feita. O mesmo fenômeno se dá com relação a Carlos Alberto Parreira, cada vez mais parecido com Ronald Golias.

Aos 28 minutos, Neymar brincou na entrada da área, deu pra lateral e dali a bola chegou aos pés de William que, de chapinha, enfiou nas redes dos panamenhos. Um manemolente e ufanista 4 a 0.

Um minuto depois, o árbitro achou que quatro a zero estava de bom tamanho e não deu um pênalti em cima do Hulk que até a avó dele daria. Tá, o apitador era boliviano, tem lá suas razões para tirar o gás dos brasileiros. Evo Morales fez isso com Lula, por que esse soprador de apito não o faria com o Hulk?!?

Vou contar um segredinho pra você: nos dois últimos confrontos entre CBF e Panamá, os panamenhos levaram 5 a 0. Assim é que, com esse 4 a 0, fica demonstrado que esta seleção atual é pior que as outras que jogaram outras Copas em nome de Médici e do regime militar, como jogam hoje em honra e glória de Dilma Vana e sua democracia da silva.

Agora, pronto para escrever sobre esse treino, eu pergunto o que você achou desse ensaio em Goiás - bem do jeito que um dia, depois de um Fla-Flu no Maracanã, Nelson Rodrigues perguntou astutamente para João Saldanha a caminho da redação: - Então, João, o que você diria desse jogo?

Como ele sabia menos de bola do que Saldanha, eu sei menos do que você sobre essa seleção dos cartolas que o Felipão dirige. Então me diga: não vale mais uma pipoca que um gol de bico?!?

Em tudo e por tudo, este foi o penúltimo pacote de pipoca que gastei nesta temporada pré-Copa das Copas. Não consigo me imaginar tomando guaraná, torcendo para o time da CBF pipocar diante da Croácia, em nome da vitória do Brasil brasileiro, em outubro.