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sábado, 21 de setembro de 2013

Mais que uma revolta, uma revolução desarmada

Não fui daqueles moleques de usar bodoque nos folguedos tirados pelas redondezas de casa, fora do horário de colégio. Nunca matei um passarinho na vida. Nem sequer fui de tratar "bem-te-vi a soco" em momentos de solidão infanto-juvenil.

Fui daqueles brigões de pátio da escola, nos tempos de ginásio, mas saía do berro para o sopapo de mão aberta e espírito desarmado.

Da adolescência para a maioridade nunca peguei numa arma daquelas que o Zé Dirceu disse que usava na sua biografia bem armada e muito menos me meti a chegar perto daquele arsenal que correligionários garantem que Dilma Vana escondia embaixo da cama quando dormiu com a democracia e acordou com a ditadura a seu lado.

Aos 18 anos cumpri o serviço militar obrigatório. Foi quando peguei um mosquetão Mauser, principal atração da Segunda Grande Guerra. No compulsório treinamento de tiro ao alvo, com medo de ficar atirando até aprender a mirar direito, caprichei tanto que alcancei a melhor nota do treinamento e virei, de repente, o melhor atirador daquela turma do 2° Batalhão do 9° Regimento de Infantaria.

Escalaram-me para representar o quartel da minha região militar, numa competição nacional do Exército, em Santa Maria da Boca do Monte. Foi quando banquei o Zé Genoíno: aleguei que estava doente. Fui dispensado da prova e peguei uma semana de Enfermaria.

De lá pra cá, nunca mais peguei em armas. Sou briguento no trânsito até hoje, mas em política uso apenas o voto como instrumento bélico... E, devo confessar, os meus textos e o meu berro. São as armas que carrego e descarrego à toda hora. E, não é lá muito raro, costumo acertar na mosca. Se me chamarem para qualquer competição, dessa vez eu vou. Não é mole, nem muito digno, bancar o Genoíno. Ninguém aguenta; nem ele.

Em todo caso, esses prolegômenos todos, são apenas para dizer que sou um anarquista meia-boca, mais revoltado do que rebelde. Jamais daria a "minha vida por um ideal", muito menos pela Minha Casa Minha Vida. Bolas, o que seria do meu ideal comigo morto?!?

Então não me convidem para sair por aí de máscara na cara, meio black bloc, com paus e pedras nas mãos, ou com a metralhadora que Dirceu e Dilma Vana deixaram no paiol de suas histórias de guerrilhas carimbadas. Pôhaaa! Eu não sou eles!

Sei que a situação é de lascar. Está ficando insuportável; não dá mais para aturar esse Estado esculhambado, essa patifaria imune e impune. Sei que ninguém aguenta mais essa esbórnia, essa mixórdia com cara de uma das mais esculachadas democracias do planeta; com o jeito da mais brasileira bagunça republicana. Eu sei, você sabe, nós sabemos que eles estão pedindo pra levar.

Eles estão pedindo, mas eu me recuso a aderir à chamada luta armada. Não sou como eles. Para mim, os fins não justificam os seus meios e muito menos os seus inteiros. Simples assim.

Eles pegarem em armas - hoje eu tenho absoluta certeza - para acabar com a ditadura e colocar uma novinha em folha no seu lugar. Um ditadura disfarçada de democracia;mais simpática, mais esperta, mais cínica e perniciosa. Um ditadura bem igualzinha a esta que estamos vivendo.

E então, para iniciar uma revolução - revolucionar é preciso! - não há que pegar-se em armas, posto que os comandantes de hoje são civis que mandam e comandam militares. O meio mais seguro de nos livrarmos dessa pandilha de depredadores do patrimônio público e do Estado brasileiro é - ainda que pareça difícil - suprimir com os motivos que os tornaram donos desse País: poder e riqueza.

Sem a brutalidade das armas, apenas com a firmeza do nosso repúdio a todos os atos desses proprietários indébitos do nosso País, a gente pode trazer o Brasil de volta ao povo bom e capaz de endurecer-se sem perder a ternura.

Cuspam nas bolsas famílias, nas cestas básicas distribuídas por malfeitores condenados por achaque aos cofres públicos; recusem casas de papelão; exijam saúde para eles no padrão que o povo tem no SUS e para nós o atendimento à la Sírio-Libanês e Albert Einsten; não saiam para seus trabalhos nos transportes coletivos sucateados; digam para os bandidos assaltarem os palácios e não as nossas casas...

Exijam qualidade de vida, igualdade social de verdade; recusem esmolas; não se deixem flagrar ao lado deles; não os convidem para nada; não frequentem os bares, restaurantes, cinemas que eles frequentam; não comprem carros usados deles; não paguem impostos para eles desfrutarem; não aceitem dinheiro e nem emprego deles que é tudo quanto eles têm para oferecer... Não votem neles!

Faça logo essa revolução que já é tardia. Cometa essa loucura revolucionária com sua vontade inabalável de querer reinstituir a virtude nesse Brasil.

Embora eu me revele aqui um sonhador, um idealista incurável, espero que essa revolução pacífica que tem a pretensão de que os homens sejam bons e a sociedade livre, moderada, igualitária, generosa e justa, acabe provocando nos brasileiros de boa vontade o desejo de prender e arrebentar a todos esses donos dos três Poderes constituídos, do instituído 4° Poder e do mais pernicioso e letal de todos eles, o governo invisível.

Assim de espíritos armados e mãos abanando votos rasgados, se  há de provar que uma revolução não precisa de armas, mas também não se faz com água de rosas.