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quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

A LIBERDADE DE DIRCEU
É UM PRATO-FEITO

Então vamos lá. Zé Dirceu é meu prato predileto de qualquer semana em que não estou de regime. De regime político, eis que com um governo como esses que venho engolindo há quase trinta anos, estou sempre de dieta.

Comecei a me engasgar em 1985, com Zé Sarney, quando ele começou a garfar a redemocratização do país. Logo Fernandinho Beira-Collor me foi servido de bandeja e fiquei com ele atravessado na garganta até hoje; Itamar Franco nem chegou a fazer parte do cardápio, foi uma espécie de migalha e nada mais.

Já FHC foi uma boa e merecida entrada para a salada ruça de sabores russos que foi servida entre o indigesto prato de Lula e outros mexilhões que deram frutos num mar de lama em que Dilma se banha.

Vamos botar o menu de hoje em pratos limpos. Deixe de olhar para a própria barriga e, como você não é o centro do mundo, dê uma olhada ao redor. Chegue até à Papuda. E veja lá dentro, enquanto pode, o Zé Dirceu se ressocializando. O cara que trabalho, estudo, leitura tudo a distância, mas sempre muito perto. E esperto.

Aproveite, porque ainda neste glorioso 2014, Zé Dirceu pode resumir os 7 anos e 11 meses de prisão que pegou no processo do mensalão, para míseros e festivos dez meses de pena.

Ainda neste ano Dirceu pode deixar o caldeirão da Papuda para provar - quem sabe até sem pulseira nos tornozelos - as delícias de um regime aberto.

Tudo depende só do apetite do Judiciário em conceder-lhe autorização para trabalhar - ainda que corra até o sério risco de uma indigestão, posto que quem não está costumado, estranha. 

Maior é o risco de um mal-estar gastronômico qualquer porque, para chegar a tanto, Dirceu terá que logo após a carga diária de ocupação laboral dedicar-se a estudos, leitura de livros e aprimoramento real em matérias de Direito Constitucional. 

Sem essa fome devoradora de trabalho e estudo ele não poderá chegar ao regime semiaberto, primeira etapa da redução de sua pena antes de acomodar-se no regime aberto em que só vai ter mesmo é que dormir numa unidade da Casa do Albergado que, apesar do nome, não é nenhum restaurante da elite de alma branca e espírito de porco a que o nobre mensaleiro pertence.

Como sobremesa Dirceu, em um ano e quatro meses estará lépido e faceiro deixando as mesas do Spa da Papuda para iniciar o regime aberto que, muito provavelmente, será em sua própria casa, em razão da absoluta e conhecidíssima falta de albergues no Brasil da Silva, graças à brilhante inercia do ministro da Justiça de Dilma.

Então é assim, se trabalhar, coisa que nunca foi lá sua praia, Dirceu descontará um dia de pena para cada três de atividade; se estudar, abaterá, também a cada três dias, mais um de sua pena. E, para completar a comilança de tempo, outros quatro dias poderão ser descontados por mês se Dirceu ler um livro e escrever uma resenha sobre ele para provar a leitura e interpretação próprias.

Assim é que estamos combinados. Logo, logo só não esbarraremos com Zé Dirceu pelas ruas da cidade, porque não moramos nas suas circunvizinhanças e ele, há muitos e muitos anos não anda a pé, de ônibus, nem de metrô. 

Sim, sim, não saberemos sequer o que foi que o deixou tão fraco de estômago. A gente vai no UPA, ele vai no Sírio-Libanês, como o bom burguês que sempre foi. Mas, se um dia o acaso nos trair e o destino nos deixar frente a frente, sempre poderemos regurgitar o que sabemos e o que pensamos dele.