A MINHA PÁTRIA PEQUENA
Ainda sobre a rápida andança por Pelotas, a minha pátria pequena que deixei aí no Sul: me dei conta que já cheguei ao outono da vida e ainda estou pelos invernos da esquina do Aquário, pelas primaveras do canalete da Deodoro, atravessando os trilhos do bonde iluminados pelo lampião a gás da minha velha Barão de Santa Tecla entre a Padaria Vitória, do Seu Zé Ferreira, o bar do Seu Albano e o Armazém Ao Arco-Íris, do Seu Nelinho e pelos verões do Laranjal.
Tempo bom, em que o leiteiro lá do tambo deixava os litros na soleira da porta; tempo bom em que o som da gaita de boca do amolador de facas anunciava a sua passagem...
Ainda me vejo por lá, ouvindo o assustador grandalhão imigrante argentino percorrer todo santo dia a minha rua com um balaio no braço gritando a sua oferenda: - Manzana! Manzana deliciosa!
E me sinto a correr ainda em sentido contrário, fugindo do crioulo furioso e desengonçado que passava de pés espalhados na calçada defronte e queria me pegar porque eu o provocara ao berros: - Abre a boca, Maneca!