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sábado, 12 de outubro de 2013

Gracias a la vida

Eles tocam os tambores

Você anda meio desiludido diante de tanta mixórdia administrativa, diante de tanto mando e desmando, tanta e tanta desigualdade, tantos serviços essenciais que, desde 1985 quando Sarney inaugurou a decantada redemocratização do País, não lhe são oferecidos em termos de educação, saúde, transporte, segurança, previdência, justiça social.

Você anda de crista caída porque aquele alento, aquele fio de esperança que você teve nas mãos quando o cidadão indignado saiu às ruas para mostrar que há 28 anos o Brasil esse governo só trocou a ditadura por uma democracia para eles, só para eles, foi sumindo aos poucos, foi se esticando esticando até que rebentou. E, como sempre, na parte mais fraca.

Você que chegou até a se entusiasmar e preparar-se para sair também às ruas e manifestar a sua desconformidade com a política, o governo, a hipocrisia e a podridão da máquina pública, deu uma travada; sentou nas patinhas de trás, se acomodou outra vez.

E tem suas razões. Uma delas foi descobrir que aquelas centenas e centenas de milhares e milhares de manifestantes de todos os cantos do Brasil sabiam muito bem do que não estavam querendo e até hoje não querem, mas não sabiam o que queriam e não sabem até agora o que querem para o seu País, a sua nação.

Outra razão daquelas tantas que o fez dar para trás, foi o aparecimento repentino dos Black Blocs que, sob o manto negro da manifestação anarquista, escondia a estratégia malévola de proteção que governantes, políticos e outros alvos fixos da indignação colocaram em prática, para tirar das ruas e do seu caminho os homens de bem, as pessoas comuns, os trabalhadores e pagadores dos impostos mais caros do mundo.

Cobras-mandadas, os Black Blocs foram usados para dificultar e impedir a reação popular legítima, verdadeira contra a banalização dos escândalos, contra a roubalheira nas burras públicas, contra a corrupção deslavada, contra o mensalão corriqueiro, contra a incompetência e o descaso de quem se apropriou do Brasil, usando o sistema eleitoral como salvo-conduto, como sua cédula de representatividade dos brasileiros de bem.

Pois os Black Blocs conseguiram. Violentos, bandidos mascarados, eles utilizaram a destruição da propriedade privada e do patrimônio público para mergulhar no desencanto, no medo e na estupefação a população ordeira e cansada das injustiças da sociedade praticada e dominada pelos inventores da democracia que hoje está colocada na mesa dos senhores dos anéis,

Assim é que usando uma outra espécie de baderna, dando o tapa e escondendo a mão, os gatos usaram os ratos e mandaram as pessoas de volta para casa. E tudo ficou como dantes no quartel de Abrantes. 

E a razão é simples: a gente que foi às ruas sabia como fazer diante do que não gostava, mas até hoje não sabe o que fazer para ter o que quer, o que gosta e o que merece. O movimento do povo não tem o respaldo universal do voto que lhe daria dinheiro, vida boa, credibilidade e força. 

Melhor ficar em casa, com a cola entre as pernas, sem olhar direito os filhos nos olhos. O governo que representa esses 28 de democracia privada e os políticos, seus proprietários, penhoradamente agradecem. Eles tocam os tambores de Merecedes e dão gracias a la vida.