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sábado, 17 de maio de 2014

Lula discursa para blogueiros e ativistas digitais

O presidente de honra do PT e dono do Instituto Lula pauta o bloguicismo companheiro e chama a assembleia-mutirão
de entrevista

E com os senhores, respeitável público, o 4° Encontro Nacional de Blogueiros e Ativistas Digitais! Tan-tararan-tan-tantan! O grande espetáculo começou! Lula arrasta a língua e sibila o que lhe resta da voz rouca que já não é das ruas; solta a voz rouca que agora é dos blogueiros e ativistas digitais, seja lá o perigo que isso possa representar.

E, sentindo-se em casa, até porque esse misto de assembleia com mutirão foi consumado nesta sexta-feira no Instituto Lula, renomada casa de palestras do mais consagrado doutor honóris causa própria do mundo, o presidente de honra do PT soltou os cachorros contra a mídia não domesticada.

A primeira coisa foi botar o poste Padilha a seu lado. Assim amparado pelo iluminado e como se ainda fosse o proprietário da República e não apenas o presidente de honra do PT e dono do local do show de recados e desaforos, Lula cobrou o que chama de "regulação dos meios de comunicação no Brasil".

Quando Lula fala assim, escute-se governança, controle, diarreia, desarranjo, soltura de regras luláticas sobre os fins e os meios da liberdade de expressão. E fiquemos assim, só no cerceamento à liberdade de expressão porque, malgrado se considere, ele ainda não é Deus para dominar a liberdade de pensamento.

Não teve vergonha nenhuma de dizer que "o Brasil está pronto para receber a Copa do Mundo". isso ele disse, uma outra vez, em outros termos, com relação à saúde pública no Brasil da Silva: "está à beira da perfeição".

E de outra feita falou diante da inauguração de uma UPA, em Recife, que ela era tão bonita e perfeita que "até dá vontade de adoecer para ser tratado aqui". Ele é assim, não tem medo de ser feliz. Ainda que iludindo os infelizes.

Lula se disse magoado pela forma como a imprensa tratou seu último encontro com a mesma claque desta sexta-feira gorda: "Eu tenho o direito de escolher meus entrevistadores". Ah tá. Mas, então, que não se meta a chamar isso de entrevista.

Ouvir palmas e nenhuma indagação; escolher a pauta, perguntas e respostas, é entrevista só no Cafundó do Judas. O Judas, sim, até por certa afinidade comportamental, saberia entender perfeitamente esse tipo de conduta.

Mas olha só o que ele disse: "Eu fiquei deprê com a violência com que alguns setores de comunicação trataram aquela entrevista". 

E, a sua melhor maneira, justificou o fato de não dar muitas entrevistas por não ter, atualmente, um cargo público. "Eu não tenho nenhum cargo público e eu me dou ao direito de dar entrevista pra quem eu quero, responder o que eu quero, na hora que eu quero."

Ah tá, de novo! Se não tem nenhum cargo público, se não é nada nesse governo, se não passa de um presidente em pleno gozo de gorda aposentadoria, se não é mais que um cara que não consegue ser, nem de longe, um cidadão comum, ele convoca a blogueirice companheira  para quê?!? A menos que esteja na espreita das pesquisas que serão realizadas depois da Copa dos Copos, um encontro desses é uma esparrela, nada mais.

Foi nessa assembleia-mutirão de blogueiros companheiros e ativistas digitais aliados que Lula coaxou que "a Copa é uma chance para a gente se mostrar". Tá bom. Mas, "se mostrar" como cara-pálida: com o povo de frente, de costas, de pernas pro ar, com as mãos abanando, ou de gravata e colarinho branco com as vestes do governo?

E, no mesmo ato, sem cansar de tanto falar para a bloguice que nada lhe perguntava, Lula criticou as exigências - não disse de quem - para atender os turistas que vêm para os jogos.

Sem tocar na sua condição de maior pé-frio do futebol brasileiro, quiçá mundial, ele pipocou como se fosse uma metralhadora: "Nós nunca tivemos problemas de andar a pé... Anda a pé, vai descalço, vai de bicicleta, vai de jumento, vai de qualquer coisa. Acha que a gente tá preocupado?".

E nem sequer esperou que alguém complementasse alguma coisa. Foi tascando na maior sangria vocal, citando fantasmas voadores: "Ah, não, porque turista tem que ter metrô que leve até dentro do estádio"...

E aí, ele mesmo responde-se perguntando aos embasbacados blogueiros: "Que babaquice é essa? Nós temos é que dar garantia para essa gente assistir ao jogo, comer nossa comida... É isso que temos que ter orgulho".

Ah, bom. Agora deu para entender. É o torcedor que anda descalço, que anda a pé, de bicicleta, de jumento que mal tem dinheiro para botar comida na mesa que vai aos jogos da Copa nas arenas monumentais que custaram os olhos da cara às burras públicas.

Tá, entendi. Só vou pedir pra vocês, de todas classes, A, B, C, D e E desse Brasil da Silva que tenham pelo menos um aparelho de TV em casa, que contem quantos desdentados, quantos descamisados, quantos pés descalços, ciclistas ou montadores de jegues, vão aparecer dentro dos estádios na telinha aí de suas casas.

E podem contar também os operários e trabalhadores de verdade do país que estarão por lá, porque nem mesmo a distribuição gratuita de ingressos pelos capitães de indústria, doadores de campanha e empreiteiras unidas que jamais serão vencidas, será suficiente para esconder a distância entre essa Copa da Fifa e o verdadeiro e apaixonante futebol brasileiro, dos bons tempos em que era esporte e não cambalacho.

Ah sim, se aparecer o Lula, por favor, me avisem. Ele, no estádio, no camarote, na arquibancada, ou nos bastidores, é a minha garantia de que a má sorte da seleção dos cartolas será a salvação da pátria em 5 de outubro. Essa imagem eu não posso perder. É quando você e Lula poderão dizer: Estamos juntos nessa!".