O costume de comprar alianças é a certeza de que o governo, mais cedo do que poderia tardar, será refém do próprio casamento. Corre sempre o perigo de ser traído quando menos gostaria de fazer o papel de corno manso. Nem é perigo; é prenúncio permanente de que o parceiro vai pular a cerca.
Mas isso já não conta, nem vale absolutamente nada para quem faz da moral uma moeda de troca; para quem sabe muito bem com quem está casando, com quem está trocando alianças. Com quem se junta por conveniência.
Desde 1985, quando Sarney foi o primeiro ungido a dar início à redemocratização do País, que os governos brasileiros foram do namoro para o noivado sem o menor cuidado com a pressuposta lealdade que se consagra entre os nubentes diante dos altares dessa vida.
A democracia brasileira passou por mãos e espíritos despreparados para uma união duradoura e virtuosa. Tudo tem sido um troca-troca desenfreado, uma suruba constante, um swing desarvorado, uma farra em que um não nada, dois são muito pouco e três, ou quatro, ou dez não passam de ménage governamental desavergonhado.
Na política brasileira, de Sarney pra cá, quem casou com quem? Parece mentira, mas dos donos do poder que sacanearam o Palácio do Planalto, o que menos casou e descasou foi Fernandinho Beira-Collor que, até por isso mesmo, acabou só e isolado e saiu pela porta dos fundos.
Itamar Franco, não teve topete nem tempo para tanto; Fernando Henrique Cardoso trocou alianças com patifes de alto coturno; Lula casou com todo mundo na política e até em voos mais elevados em céus de brigadeiro pelo mundo afora. Pior do que isso, Lula destrambelhou, dessacralizou o casamento e oficializou o toma-lá e dá-cá com a vizinha do lado ou com a torcida corintiana.
Implantou o que chamou e chama de "estratégia da coalizão pela governabilidade" em que tudo é só uma questão de preço e onde quando vale tudo. Esse procedimento tem a alma e o espírito de porco que o vulgo passou a conhecer pelo codinome de Mensalão. Tudo é mensalão nesse país.
O pagamento pode ser em trinta dinheiros, como era no caso da turma de Zé Dirceu, mas também se dá em concessão de ministérios, como foi o episódio de Marta Suplicy que, depois de levar um chute no traseiro, exigiu a pasta da Cultura para gastar sola de sapato com Fernando HaHaHaddad.
Dilma não deixou por menos. Fez alianças com Deus e o diabo na terra do sol. Já foi mineira de nascença e gaúcha de coração, mas ama de paixão a pauliceia que tem um mundaréu de votos. Já foi descrente, mas virou crédula, crente, sincrônico-religiosa e até vai à missa das dez nas igrejas católicas todo domingo que pode, ou onde quer que o púlpito esteja perto de uma urna.
Agora mesmo, anda se queixando de que seu governo está sob chantagem. É que o PDT para manter o Ministério do Trabalho, grande arapuca eleitoreira e lugar de reconhecidas falcatruas e fraudes na criação de sindicatos, está dizendo que vai apoiar a oposição. E então, tudo volta a ser apenas uma questão de preço.
E o Brasil dos brasileiros vai vivendo esse Brasil Dilma da Silva cujos governos jamais são enganados, a não ser pelo fato de que se enganam a si mesmos.
E são assim, sem o menor resquício de vergonha, sem o menor pudor, sem o menor prurido por serem cornos mansos de si mesmos; são chifrudos por opção. Não têm dó nem piedade por sua moral e agem costumeira e abertamente com o espírito cruel, marca registrada daqueles que sabem o quanto é fácil enganar as pessoas de bem.