PEDÁGIO RODOVIÁRIO
Se há um desaforo insuportável nesse Brasil da Silva é uma afronta chamada pedágio rodoviário. É uma afronta ao direito de ir e vir do cidadão pagador dos impostos mais caros do mundo.
Mas isso até que nem é nada. Para uma nação que já perdeu os referenciais de sua própria Constituição pagar pedágio é uma coisa tão natural quanto o morador da Rocinha molhar a mão dos traficantes para subir e descer a favela mais povoada do Rio de Janeiro.
Já que é assim e o brasileiro é de boa paz e se acomoda ao primeiro berro no pé do ouvido, então que assim seja. Mas é bom saber por quê.
O pedágio, nome pop do ato de cobrança cometido competentemente pelas empresas privadas que detém a concessão de rodovias, surgiu - numa primeira alegação - para manter e construir sistemas rodoviários adequados às necessidades de quem vai e vem pelo Brasil de cabarrabo, de fiapaviu.
Pronto, grande argumento. O pedágio, no entanto, nasceu sob o desmoralizante estigma de que o Estado, o governo perdeu a capacidade de cumprir este compromisso; perdeu a vontade e vergonha de fazer o que lhe competia fazer.
Quer dizer, o pedágio surgiu para que você pague para ter uma rodovia em condições que o governo confessa não saber fazer e não querer oferecer ao povo.
Mas não foi só por isso. O pedágio nasceu, fundamentalmente, porque essa coisa de fazer licitação para descarregar a coisa pública na privada, é um baita negócio. Jorra dinheiro.
Desde o primeiro dia de licitação até os anos e anos que correm a fio para as arcas do tesouro terceirizadas. Afinal, cada parque de pedágio não tem mais que meia dúzia de cabines tipo sanitários de estrada e outro tanto e até um pouco mais de funcionários-cobradores para um turno de 24 horas ininterruptas de trabalho, de segundas a domingos. É um soar de grana caindo no caixa que não cessa de tilintar. Tilinta em cascata.
Alegar, como alegam os donos da malha rodoviária brasileira, que o Estado - e os estados, no caso das estradas estaduais - não têm condições de administrar o que é tão fácil para as concessionárias, é dar uma banana para os habitantes dessa Republiqueta esbraguilhada.
Não vale o argumento simplista daqueles que conhecem o Brasil da Silva de sobra: "se o pedágio não for terceirizado dá roubalheira". Ora bolas, carambolas! Deu roubalheira, bota na cadeia. Faz como o Supremo fez com os mensaleiros e pronto. A gatunagem vai presa e ainda tem que devolver o que roubou.
RODAPÉ - Como empregado de concessionária não tem imunidades e outras benesses que a política oferece aos seus matreiros componentes, o rito de julgamento é sumário. Pegou com a boca na botija, vai pra Papuda e complexo penitenciários similares e genéricos.