Pão e Circo
Assistencialismo como pão e futebol como circo
Para quem, como o Cara que a gente conhece, descobriu este País em 2002, houve apenas um ditador simpático na História do Brasil: Getúlio Vargas e olhe lá; os demais presidentes do tempo da Redentora foram todos bons ditadores, mas sem rasgos aparentes de maiores afinidades populares.
Para quem descobriu o Brasil de 2002 pra cá, tudo é democracia se tudo parece ser democracia. Até mesmo quando os descobridores seguem os ditames de sua consciência cívica de guerrilheiros desarmados e, como os mais famosos régios potentados da América Latina, distribuem a seu jeito e maneira, pão e circo para o povo.
Com extrema bondade o popular descobridor repartiu o pão em forma de bolsa-família e armou a lona trazendo o circo da Copa do Mundo para um país que arrombou os cofres republicanos com o Pan-Americano do Rio de Janeiro e nunca prestou contas. E olha que os generais além do sopão das madrugadas distribuído aos moradores de rua, conquistaram o tricampeonato Mundial de 1970.
A mania de grandeza do Pai dos Pobres deve tê-lo inspirado a trazer esta inoportuna Copa pra cá, só para o Brasil ser hexacampeão, justamente o dobro do que conseguiu o gaúcho Emílio Garrastazu Médici lá no México. O Cara não deixa por pouco.
Anastácio Somoza fez muito dessas coisas na Nicarágua. Cruel e desonesto, comandou a massa, sacudiu a pançae deu circo ao povo nicaraguense por mais de 50 anos de ditadura, tempo em que ele e sua família embolsaram o dinheiro que emanou do povo e que jamais para o povo voltou.
Pão e circo não faltaram para os chilenos depois que, em 1973, Augusto Pinochet tomou conta do Chile. Tomou conta é modo de dizer; mau modo de dizer. Tomou pra ele. E mais que pão e circo tinha bala de sobra. Pinochet quase conseguiu reeditar a Copa do Mundo de 62, quando o Brasil de Garrincha foi bicampeão.
Aqui pelas redondezas latinoamericanas Simon Bolívar livrou a cara da Venezuela, da Colômbia, do Equador, do Peru e da Bolívia do domínio espanhol. Depois disso, se fez presidente da Grã-Colômbia - Colômbia, Equador, Panamá e Venezuela - e assim que tomou gosto passou a ditador. O Brasil não entrou nesse time. Talvez porque Bolívar não se ligava em futebol. E, a bem da verdade, nem comia bola. Com ele foi só pão e circo mesmo.
Bem do jeito que a democracia brasileira gosta, a ditadura argh!entina, armou o circo da Copa do Mundo em 78. Na marra. E na marra levou. Como as mães da Praça de Maio não jogam nada, até hoje estão engasgadas com o pão que o diabo amassou. Mas que los hermanos sabem muito bem o que é pão e circo, isso sabem. Não tanto quanto o mais recente descobridor do Brasil. Afinal, a melhor bolsa-família e a melhor Copa do Mundo são nossas.