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terça-feira, 25 de março de 2014

O ESPÍRITO NACIONAL

Quando, nos primórdios da revolução da revolução de 64, Lula se apresentou como candidato à Presidência da República, as forças-vivas da nação se insurgiram contra ele, sob o medo manifesto de que ele fosse esculhambar o Brasil, pulando cercas, arrebentando portas de fábricas, explodindo bancas de revistas e coisas assim.

Quê nada. Lula virou presidente e presidente foi por oito longos e simpáticos anos de bonança popularesca e convivência pacífica com banqueiros, empreiteiros, sindicalistas pelegos, consultores monumentais, lobistas oficiais, capitães da indústria e do comércio. Virou até empresário de instituto, promotor de eventos e palestras nacionais e internacionais.

Lula não foi, em momento algum de sua ditabranda, aquela ameaça furibunda que um cara picado de cobra por uma ditadura militar poderia ser para um país em plenas vias de redemocratização.

Lula não arrebentou portas de fábricas, não explodiu bancas de revistas, nem coisas assim. Bem que andou pulando cerca, mas isso até que é bom num país em que gandaia é sinônimo de vivacidade e esperteza.

Lula foi bem mais além do mal que esperavam dele. Lula invadiu o espírito brasileiro. Inoculou-o com o vírus da esperteza; do toma-lá, dá-cá; da gana por levar vantagem em tudo e por tudo.

Sua estratégia de coalizão pela governabilidade, traduzida num simples "quanto é que você quer para ser meu aliado?" contaminou os brasileiros ingênuos e desprevenidos que hoje sonham em ter para seus filhos um futuro igual aos que venderam sua alma para o popular metalúrgico que virou repentista de palanque e doutor honóris causa diversas e incontáveis vezes.

Lula não derrubou bancas, não arrebentou portões de fábricas, só instituiu sistemática e explicitamente o espírito de porco nacional, enquanto pulava uma cerca lá que outra.

VÃO SE CATAR!

Agora a Polícia Federal - que até parece que está de mal com seu chefe supremo, Zé Eduardo Cardozo, ministro da Justiça de Dilma Vana - afirma que doleiro pagou ex-diretor da Petrobras pelo contrato que redundou na compra da metade daquela velha refinaria de Pasadena, no Texas.

Nesse meio tempo, investigações ligam transações da Operação Lava Jato - como são lindos e criativos esses nomes das ações policiais - à execução das obras de construção da refinaria de Pernambuco.

E nesse tempo Inteiro, enquanto rola a trampa lá do Japão, a Controladoria Geral da União, sai da toca e quer investigar "falhas" no negócio da companhia texana que Dilma, então president@ do Conselho da Petrobras, assinou sem ler direito. O bicho tá pegando. Mas, nem tanto quanto se pensa.

Bolas, querem agora abrir uma CPI da Petrobras! Ah vão se catar! Essa pandilha não nos representa. Uma CPI a esta altura do campeonato, só estraga o jogo. O que essa banda larga precisa é de investigação policial. Esse tipo de tramoia, de negociata tem que acabar em cadeia.

Com CPI, tudo dá em nada. Como tudo deu em nada para o grande responsável pelo Mensalão, inclusive um merecido pedido de impeachment, criminosamente ignorado na época pela oposição que o trem também não pega.

CREDIBILIDADE EM BAIXA
O Brasil desceu para o pior patamar de credibilidade que um país pode alcançar antes de sair do grupo de países em que os investimentos são seguros. Dentre as razões que levaram o Brasil, até aqui com ares de impávido e colosso, a ficar com a cola entre as pernas e o queixo caído, a maior alegação é que o governo brasileiro gasta demais. Ainda assim, os governantes celebram o fato de ainda pertencerem ao chamado bloco dos que têm credibilidade no mundo dos negócios. Traduzindo do português para o português: as manobras do governo brasileiro já não enganam ninguém lá fora.

JÁ É MAIS QUE HORA

Epa! o ministro Marco Aurélio Mello surpreende, uma vez mais. Era início de semana. Tempo de dizer alguma coisa. Então, como douto presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ele deu o brado retumbante que toda verdadeira e pura democracia merece. Ele disse alto e bom som que "é hora de avançar e pensar no voto facultativo".

Na realidade, ele só abriu a discussão. Isso já era para ser assim, desde que a redemocratização começou em 1985 com Sarney de presidente dessa República que assistiu apalermada aos reformadores trocarem a ditadura por uma democracia só para eles.

Outra coisinha de nada que o Brasil precisa arrumar com a maior e mais grave urgência é o financiamento de partidos e de campanhas eleitorais por pessoas jurídicas. Que meleca é essa?!? Uma democracia jamais pode ser garantida com dinheiro de agentes que não têm direito a voto.

Dinheiro no cofre de partido político é poder comprado; poder comprado é poder corrompido, emporcalhado; é uma democracia de mãos-sujas, golpe baixo, pilantragem, trambique.

A RÚSSIA É O PARAGUAI
Líderes do G-8 cancelaram reunião e marcaram um novo encontro, desta feita, sem a Rússia. Como Brasil e Venezuela defenestraram o Paraguai do Mercosul, os Estados Unidos e o bloco dos ricos chutaram o traseiro da Rússia. Quer dizer, a Rússia agora é o Paraguai do G-7.

A LUTA CONTINUA, COMPANHEIROS!
Bravata belicosa: o governo central garante ao amedrontado Sérgio Cabral que o Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, terá forças federais "pelo prazo necessário". Ao invés de estabelecer um programa de convivência social saudável, será, honesta e com segurança, implanta um regime de guerra urbana; de confronto entre bandidos e mocinhos com a população no meio do fogo cruzado. Violência gera violência, mas para o governo é sinal de pacificação. O Rio de Janeiro e, não demora nada, o Brasil inteiro vai à guerra. E a luta continua, companheiros!

E A CAIXA-PRETA?
A Fazenda está renegociando empréstimos do BNDES no valor de R$ 238 bilhões. Isso, ao inverso do que possa parecer, não é coisa nem sequer parecida com a expectativa natural de "abrir a caixa-preta". É só um jeito de renegociação da Fazenda. Simples assim.

Se a oposição quiser mesmo saber de tudo sobre a negociata da Petrobras com metade da velha refinaria de Pasadena, no Texas, não precisa de CPI nenhuma. E nem a oposição tem maioria para levar a ideia de jerico adiante. Basta então convidar Nestor Ceveró, o bode expiatório da Operação Lava Jato. É só perguntar que ele tem a resposta na ponta da língua.

Outro que precisa de muito afeto e carinho, por parte do governo é Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, preso pela Operação Lava Jato na semana passada. Esse é outro que pode abrir uma cratera no meio do santuário dos santos de pau oco esculpidos nesse poder estabelecido que tem outro por dentro, escondendo mirra, incenso e ouro. E preciosas gotículas de petróleo.