NOTÍCIA É A VERSÃO QUE ESTÁ NAS ENTRELINHAS

terça-feira, 9 de abril de 2013


ESTA CASA NÃO LHES PERTENCE

É como se eu estivesse quieto e calado num canto qualquer da grande casa de tolerância nacional, à espreita dos acontecimentos. É como se eu não tivesse mais nada o que fazer, a não ser ficar de olhos e ouvidos abertos como se fossem penicos de tiriricas e sarneys e renans e cardeais e nanicos do baixo clero. E então me sinto no meio de um cenário tragicômico que me angustia e me dá engulhos quando me dou conta de que sou parte da História que caminha aos trancos e barrancos. Meus olhos e meus ouvidos acabam de se ligar... 

E foi então que, com menos furor e retumbância demonstrados pelos caras-pintadas que tiraram Fernandinho Beira-Collor pela porta dos fundos do Palácio do Planalto, os defensores dos direitos humanos & diversidades gerais saíram dos armários das redes sociais e respingaram em grupos de gatos pardos pelas ruas e pelos corredores do Congresso. E protestaram contra o proclamado racismo e os reiterados sinais de homofobia do pastor Marco Feliciano, hoje dono da cadeira presidencial da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal.  

E foi então que, nesse meio tempo, na surdina e sorrateiramente, Zé Genoíno e João Paulo Cunha - dois corruptos e quadrilheiros assim condenados pelo Supremo Tribunal Federal, pegaram seus assentos e se instalaram comodamente numa das mais importantes salas da grande casa de tolerância nacional, a Comissão de Constituição e Justiça. 

Não sofreram nada mais do que alguns tremeliques esparsos por parte de alguns injuriados ainda crentes no lema de ordem e progresso que nem se prestaram a botar a cara na rua com nariz de palhaço, punhos cerrados em defesa do patriotismo, ou outra baboseira qualquer dessa República embananada.

O pastor supostamente preconceituoso, cheio do espírito de porco que seu púlpito garante, manteve-se altivo e soberano como costumam ser altivos e soberanos aqueles que são mais amigos de Deus do que ninguém e de quem Deus é amigo como de nenhum outro ser humano tão esperto quanto vivo, na face dessa terra que os seus olhos há de comer.

Feliciano ficou por lá e por lá ficará garantido, muito mais pela inércia dos homens de boa vontade contra a posse dos corruptos à espera de cadeia na Comissão de Constituição e Justiça, do que pela sua birra contra a mobilização do populacho, grávido de direitos humanos, em torno de sua saída.

O pastor fica na presidência da Comissão de Direitos Humanos, porque Genoíno e Cunha estão na Comissão de Constituição e Justiça. Fica, porque se faz barulho no Brasil da Silva pelos direitos de minorias cada vez mais numerosas e não se dá um pio pelo deboche, o achincalhe, a desmoralização, o desfalque e a humilhação que dois corruptos esfregam na cara dos homens de bem por anos e anos, governos a fio.

Vejo de lá, do meu canto na Casa do Povo, que falta nisso tudo para o povo brasileiro a força de uma consciência coletiva capaz de perceber quando confrontar um pastor que faz política religiosamente com um político que pastoreia pelos currais do poder, que ambos são absoluta e tristemente iguais. 

Se dois corruptos condenados podem, então um pastor tido como racista e homofóbico também pode! Do contrário é discriminação. Fora daqui, seus militantes preconceituosos, seus protestantes insensíveis e desalmados! Fora daqui, fariseus hipócritas! Esta Casa não lhes pertence.